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 Manuel Coelho da Silva:

retratos da Nazaré

A vida quotidiana da gente da Nazaré foi o motivo central da obra de Manuel Coelho da Silva, quer sobre placa de cobre, que cinzela com utensílios de ourives, mas também em óleo sobre tela ou cartão, gradualmente substituído por aguarela, técnica que se adaptava melhor à sua intenção de expressar a luz natural e o movimento das figuras. A Nazaré dessa época era um ponto de confluência de escritores e artistas plásticos, em particular, da chamada corrente neo-realista, com os quais Manuel Coelho da Silva contactou e, certamente, partilhou ideias e conhecimentos práticos sobre a arte e a sociedade do seu tempo, que foram essenciais na evolução do seu trabalho.


Numa primeira fase da produção do trabalho em cobre martelado, o autor preocupava-se em definir o contorno de cada peça, por meio de um perfil trabalhado no próprio metal, à maneira de moldura de um quadro de pintura de cavalete. Por conselho de artistas plásticos, com quem teve a oportunidade de contactar, foi abandonando essa prática, tendo optado por deixar a placa de cobre sem moldura, tirando mesmo partido da irregularidade da sua forma ocasional, adaptando a composição plástica à superfície.


A característica deste material parece condizer, de algum modo, com a rudeza da faina piscatória e a própria forma irregular e, por vezes, agressiva, da placa de cobre adapta-se expressivamente ao tema. Como consequência natural desta opção estética, as formas foram-se libertando e o seu contorno tornou-se, gradualmente, mais indefinido, de modo a melhor expressar o movimento do andar, dos gestos, das ondas… Ao mesmo tempo, esse destruir da forma acentua o dramatismo de alguns motivos e temas.


Ao longo de uma vida de artista amador, no verdadeiro sentido do termo, para além do cobre e da pintura a óleo e aguarela, Manuel Coelho da Silva experimentou outros materiais. Sobressaem os trabalhos em barro, que seguiram a mesma linha evolutiva, de uma representação naturalista no sentido da simplificação formal.


A sua obra é o espelho de uma personalidade sensível a valores estéticos e humanistas e foi um meio privilegiado de registo e divulgação da realidade sociocultural da vila da Nazaré do século XX. Os seus trabalhos, vendidos a preços módicos, fora da lógica mercantil da oferta e da procura, mais com objectivos de reposição dos materiais utilizados do que do lucro, foram também a maneira, mais em consonância com o seu temperamento e sensibilidade emocional, de compensar uma actividade profissional que teve de abraçar por imposição circunstancial de vida, mas menos feliz do ponto de vista psicológico. A maior parte deles estão hoje espalhados por vários países, apreciados e levados por turistas que, a partir dos anos 50, foram passando pela Nazaré.
 

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